quarta-feira, 12 de março de 2008
história do goticismo
Ao longo da história, o termo Gótico foi usado como adjetivo ou classificação de diversas manifestações artísticas, estéticas e comportamentais. Dessa maneira, podemos ter uma noção da diversidade de significados que esta palavra traz em si. Originalmente, Gótico deriva-se de Godos, povo germânico considerado bárbaro que diluíu-se aproximadamente no ano 700 d.C.
Como metáfora, o termo foi usado pela primeira vez no início da Renascença, para designar pejorativamente a tendência arquitetônica, criada pela Igreja Católica, da baixa Idade Média e, por conseqüência, toda produção artística deste período. Assim, a arquitetura foi classificada como gótica, referindo-se ao seu estilo "bárbaro", se comparado às tendências românicas da época.
No século XVIII, como reação ao Iluminismo, surge o Romantismo que idealiza uma Idade Média, que na verdade nunca existiu. Nesse período o termo Gótico passa a designar uma parcela da literatura romântica. Como a Idade Média também é conhecida como "Idade das Trevas", o termo é aplicado como sinônimo de medieval, sombrio, macabro e por vezes, sobrenatural. As expressões Gothic Novel e Gothic Literature são utilizadas para designar este sub-gênero romântico, que trazia enredos sobrenaturais ambientados em cenários sombrios como castelos em ruínas e cemitérios. Assim, o termo Gothicism, de origem inglesa, é associado ao conjunto de obras da literatura gótica.
Posteriormente, influenciado pela Literatura Gótica, surge o ultra-romantismo, um subgênero do romantismo que tem o tédio, a morbidez e a dramaticidade como algumas características mais significativas.
No final da década de 70 surge a subcultura gótica influenciada por várias correntes artísticas, como o Expressionismo, o Decadentismo, a Cultura de Cabaré e Beatnick. Seus adeptos foram primeiramente chamados de Darks, aqui no Brasil, e curtiam bandas como Joy Division, Bauhaus, The Sisters of Mercy, entre tantas outras. Atualmente, a subcultura gótica permanece em atividade e em constante renovação cultural, que não se baseia apenas na música e no comportamento, mas em inúmeras outras expressões artísticas.
Nos meados da década de 90, viu-se emergir uma corrente cultural caracterizada por alguns elementos comportamentais comuns ao romantismo do século XVIII, como a melancolia e o obscurantismo, por exemplo. Na ausência de uma classificação mais precisa, esta corrente foi denominada Cultura Obscura. Porém, de forma ampla e talvez até equivocada, o termo Goticismo também é usado para denominá-la.
Há algumas semelhanças entre Cultura Obscura e Subcultura Gótica. Mas há também diferenças essenciais que as tornam distintas. Por exemplo, a Cultura Obscura caracteriza-se por valores individuais e não possui raízes históricas concretas como a subcultura gótica.
Entre os apreciadores da Cultura Obscura, é possível determinar alguns itens comuns, como a valorização e contemplação das diversas manifestações artísticas. Além de uma perspectiva poética e subjetiva sobre a própria existência; uma visão positiva sobre solidão, melancolia e tristeza; introspecção, medievalismo, entre outros.
Sintetizar em palavras um universo de questões filosóficas, espirituais e ideológicas que agem na razão humana, traz definições frágeis e incompletas de sua essência. Obscuro, Sombrio ou Gótico podem ser adjetivos de diversos contextos e conotações. Mas é, principalmente, o espelho que reflete uma personalidade.
São Paulo - Pelas ruas da cidade é possível encontrar pessoas das mais variadas tribos: punks, clubbers, hippies, entre muitas outras. Os góticos, por exemplo, vestem-se de preto, usam maquiagem escura, preferem uma literatura que se aproxime mais do mórbido, vão à cemitérios e, em geral, são pessoas bem interessadas por arte e cultura. É possível encontrar um gótico à noite, mas eles têm seu espaço em bares, casas noturnas e lojas.
Segundo a estudante do ensino médio, Bárbara Thompson, 16, góticos são pessoas tristes com o mundo em que vivem, e o enxergam de outra forma. Em seus trabalhos artísticos, a escuridão torna-se uma característica marcante retratando um mundo de dor, rejeição e tristeza. Para muitos isso se dá pelo fato de serem pessoas, em sua grande maioria, sensíveis. A Internet tem servido atualmente para divulgar essa cultura, possibilitando uma maior troca de informações. O metalúrgico Rodrigo Quintaneiro, 24, diz que "ser gótico é encontrar, e cultivar em si a essência que tende à solidão, ao noturno, sombrio".
O universo dessa tribo urbana pode ser encontrado em diversos meios de expressão, porém não é tão fácil encontrar alguém dessa tribo, ao menos que se procure em locais voltados para esse segmento. "Enquanto a maioria dos movimentos sócio-culturais (ou tribos urbanas) busca a exposição, socialização e o consumismo, o movimento gótico se opõe. Os góticos preferem a solidão, evitam se expor e não são adeptos do consumismo massificado", afirma Rodrigo Quintaneiro.
Segundo o DJ Cid Vale Ferreira, - o gótico paulista não mantém os traços do gótico inicial. Em eventos como o RIP, que ocorre quinzenalmente no bar Salamandra (casa noturna localizada no Bairro de Pinheiros) o movimento sobrevive basicamente pela sociabilidade desse pessoal, pois ocorre uma troca muito grande de informações.
Bandas como Bauhaus e The Cure , escritores como Edgar Allan Poe e Lord Byron , fazem parte da cultura dessa tribo. "A arte anda junto com o gótico, enfim, muitas coisas fora da compreensão humana e que causam fascínio pelo obscuro", diz Bárbara Thompson a respeito das formas de expressão góticas. "Meu trabalho mescla, basicamente, cultura pop às coisas mórbidas, macabras. Sempre trabalho a partir do preto e depois parto para outras cores. Uma referência muito forte são pessoas fossilizadas. Uso muito materiais que se aproximam do fóssil", declara o ilustrador, artista plástico e cineasta Victor Hugo Borges. Ele afirma que ideologia é falsa, pois é algo totalmente mutável.
"Isso pode ser comprovado pela história da arte: os renascentistas usavam o termo gótico para descrever a arte bárbara; no século XVIII, o gótico passou a ser sinônimo de literatura de horror, no século XX, está muito ligado ao cinema de horror; que depois absorveu a estética de horror clássica do século XVIII", afirma Cid Vale Ferreira, a respeito das transformações pelas quais o termo gótico já passou.
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