sexta-feira, 28 de março de 2008

As Brumas de avalon




Quando Marion Zimmer Bradley lançou a série As Brumas de Avalon (The Mists of Avalon), em 1982, os livros rapidamente se tornaram cult. Para um público que recheava as estantes com obras de Sidney Sheldon, a coleção oferecia muito mais charme e ainda com embalagem histórica.
A versão de Bradley sobre o mito do Rei Artur é feminista sim, no sentido de que toda a história é narrada em torno da trajetória das mulheres que cercavam o rei - Igraine, a mãe; Morgana; a meia-irmã e amante de uma noite; Guinevere, a esposa adúltera; e a mística Senhora do Lago, que lhe dá a espada Excalibur. Mas não tem o ranço do feminismo combativo, de achar que os homens são todos uns canalhas opressores e as mulheres, pobres vítimas indefesas. Para quem acha que a história já foi contada vezes demais e nenhuma novidade tem a oferecer... olhe de novo. Nos livros de Bradley, nada é o que parece ser, mas ao contrário de Twin Peaks, onde eram todos culpados de alguma coisa, em As Brumas de Avalon todos são inocentes, e apenas reagem aos acontecimentos. Nestes livros, toda nudez é perdoada, e não só a nudez, mas assassinatos, traição, incesto, sexo grupal, homossexualismo masculino e feminino e muito mais.
A autora tirou dos personagens a luta entre bem e mal, deixando essa tarefa para a religião. O vilão é o cristianismo, opressor do mocinho paganismo, que só queria co-existir em paz. Esta é talvez a melhor e a pior característica dos quatro volumes da série. Melhor porque é uma renovação dos papéis tradicionais, pior porque Bradley bate tanto nesta tecla que estende a quatro volumes o que poderia ter sido escrito em dois.
Tudo o que tradicionalmente se deriva do mito de Artur foi virado do avesso. Morgana, a meia-irmã malvada que seduz Artur e dá à luz o mais malvado ainda Mordred, não é nada daquilo. Ela é a personagem central da história, um joguete nas mãos de todo mundo, inclusive de Avalon, a ilha mágica onde se sagra sacerdotisa. Igraine, que é comumente retratada como a pobre mãe de Artur, usada por Uther Pendragon, disfarçado de seu marido por pura luxúria, com a ajuda de Merlin, também não é nenhuma santa. Ela ama Uther, e é conivente com o golpe. Também não é mãe extremada - logo cedo empurra o bebê Artur para ser cuidado por Morgana, e não hesita em mandar a filha para Avalon para ficar a sós com o novo marido.
O caráter dos personagens é exposto logo no primeiro volume, A Senhora da Magia. O livro chega até a gravidez de Morgana, quando Artur se torna rei e recebe Excalibur. No segundo volume, A Grande Rainha, ele se casa com a relutante e apavorada Guinevere, selando o lendário triângulo amoroso com Lancelote. O livro seguinte, O Gamo-Rei, narra o crescimento de Mordred e a descoberta de Artur sobre sua existência. Por fim, em O Prisioneiro da Árvore, Morgana trava o último embate contra Artur, para tomar-lhe Excalibur e impedir que o cristianismo destrua Avalon.

Nenhum comentário: